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Uma amiga minha uma vez me disse: se o trabalho de parto fosse uma coisa fácil, não se chamaria “trabalho” de parto, apenas parto! É um momento no qual não se tem uma previsão ao certo de quando vai acabar, afinal, seu tempo de duração varia muito entre uma mulher e outra. Se a grávida não souber o que esperar durante ele e como fazer para ajudá-lo a ser o melhor possível, pode acabar se descontrolando e se rendendo a uma ansiedade extrema. Isso é muito ruim para ela, pois além de ser uma sensação de perda do autocontrole, essa liberação de adrenalina atrapalha as contrações do útero, e pode prolongar o tempo de trabalho de parto. Já com as mais calmas e colaborativas, ele progride, evolui melhor. Portanto, meu objetivo nesse post é ensinar alguns exercícios para vocês irem treinando para a hora H.

A primeira coisa é a respiração: durante as contrações, o mais importante é se concentrar na respiração. É ela que leva oxigênio para o neném, e quanto mais oxigênio o útero recebe, mais rápido as contrações melhorarão. Nesses momentos, a grávida deve respirar lentamente pelo nariz e soltar pela boca, enchendo fundo o peito de ar, e soltando lentamente. Se der tontura, é porque a respiração está muito rápida e ,portanto, você deve respirar mais devagar ainda.

As melhores posições para a gestante durante o trabalho de parto são aquelas que abrem a bacia, facilitando a descida do neném pelo canal de parto: com as pernas bem abertas, e o tronco inclinado para frente.

Enquanto a grávida se apóia em algum suporte pela frente, seu acompanhante deve fazer massagem nos seus músculos lombares, que costumam ficar tensos juntos com as contrações. Esses são os músculos que ficam na região mais baixa das costas, logo acima do bumbum, um de cada lado da coluna. A massagem deve ser feita com as duas mãos, com uma compressão firme da musculatura (não é para ficar fazendo “carinho”, fraquinho, pois assim não ajuda!), em movimentos circulares. Ela deve ser feita no terceiro trimestre, assim vocês já treinam para a hora do parto, e ainda alivia aquela dor nas costas característica do final da gravidez.

Para finalizar, é importante lembrar que a gestante também pode e deve caminhar durante o trabalho de parto. A força da gravidade também costuma ajudar muito o neném a descer. Desta forma, o que eu não recomendo para esse momento é ficar deitada: é a pior posição possível, que menos contribui para sua progressão. Imagine uma mulher deitada, com as pernas fechadas. A força da gravidade não contribui e o espaço que o neném tem para descer e nascer fica muito menor. Portanto, quando chegar à sua vez, lembre dessas dicas, assim você mesma pode contribuir para seu trabalho de parto, fazendo dele o melhor momento possível!

Após o nascimento do neném tem a última parte: a placenta. Ela normalmente sai em uns 10 a 15 minutos.
Após o final do parto, deve-se sempre estar atenta ao sangramento vaginal, pois às vezes o útero cansa, e fica mais amolecido podendo resultar num sangramento aumentado. Você pode reconhecer isso se perceber que está sangrando mais que um segundo dia de menstruação.
Um ótimo tratamento para esses úteros mais amolecidos é massagem. Ao colocar a mão na barriga depois do parto é fácil perceber o útero: é uma bolinha que ficou na altura do umbigo. Coloque a mão aberta sobre ele e a aperte. Assim irá perceber que conforme vai estimulando o útero, mais duro ele fica. Com isso você pode prevenir sangramentos aumentados. Porém, se mesmo assim ele continuar amolecido, e o sangramento permanecer exagerado, chame alguém da equipe de saúde para poder te examinar e tratar se for necessário, pois essa hemorragia pode colocar sua vida em risco.

Quando há a dilatação total do colo, é hora da mamãe começar a trabalhar!!! O importante para que a força seja boa é que ela seja longa e duradoura. Não adianta fazer a maior força do mundo por poucos segundos, e sim fazer uma força boa e manter essa tensão.

A gestante deve começar a fazer força só quando vier a contração, para que as duas trabalhem juntas e sinergicamente para o nascimento do neném. Para fazer a força, ela deve segurar na parte de baixo de suas coxas, e respirar fundo uma vez antes de segurar o ar. Quando segurar o ar não pode mais soltar, senão perde toda força.

Então a seqüência fica assim:

·                     Posição adequada e início da contração,

·                     Respire fundo uma vez, e em seguida, prenda o ar,

·                     Puxe sua perna para você, fazendo o movimento de levantar o tronco (como se estivesse fazendo um exercício de abdominal), concentrando para fazer força no períneo, e não no pescoço,

·                     Quando a força acabar, respire fundo e faça de novo, se ainda estiver com a contração.

        Se ficar cansada, pode descansar! Não é obrigada a fazer essa força toda contração, afinal, no final do parto os dois têm que estar bem: a mãe e o neném!

Você pode treinar fazer essa força antes do trabalho de parto, para que aprenda a fazê-la direito. Isso ajuda muito, porque você pode se auto-avaliar para ver se realmente está fazendo a força lá em baixo (e não no pescoço). Pode ficar tranqüila que esse treinamento não levará ao nascimento do neném antes da hora.

Quando o colo do útero tem uma dilatação de aproximadamente 4 cm, o trabalho de parto dá uma boa acelerada. A partir daí, o colo dilata numa velocidade média de 1 cm/hora.

As contrações ficam mais fortes, longas e com um intervalo cada vez menor. Costumam durar uma média de 90 segundos (que podem parecer uma eternidade!), numa freqüência de 3 a 5 contrações a cada 10 minutos.

Quando a bolsa se rompe, as contrações tendem a ficar mais dolorosas, e a cada contração você sentirá um líquido escorrer pela vagina (é o líquido amniótico).

Se perceber um sangramento vaginal, não se preocupe. Conforme o colo vai dilatando, pode romper alguns vasinhos causando esse sangramento. Ele é normal!

É muito bom nessa hora andar, tomar um banho longo, morno e gostoso, e procurar posições que a deixam melhor acomodada. Você nessa hora, instintivamente, ficará em posições que ajudam no trabalho de parto, junto com a nossa velha amiga: a força da gravidade. Elas podem ser diversas: de pé, sentada, de cócoras, de joelhos com as mãos apoiadas no chão, enfim, qualquer uma que você quiser!

A respiração deve ser a mesma, respirando fundo pelo nariz e soltando pela boca, devagar. Se preferir, agora também pode respirar curto e rápido pela boca (como um cachorrinho!).

Não aperte a mão do seu companheiro na hora das contrações porque ela pode quebrar!!! Prefira o lençol ou o travesseiro, e deixe que ele fique com as duas mãos inteiras para poder segurar seu filho quando nascer!

 

A fase de latência é quando o colo começa e ter alguma dilatação. Ela pode durar de horas a dias, e é quando a grávida acaba indo inúmeras vezes ao hospital achando que finalmente chegou a hora.

Nessa fase as contrações ficam um pouco mais fortes que as de Braxton-Hicks, e mais freqüentes. Como elas se tornam mais incômodas, é comum a gestante ficar muito ansiosa, afinal, ela começa a sentir mais dor, mas o colo ainda demora para dilatar (ele começa a dilatar mais rápido a partir de 3 para 4 cm).

O que ela pode fazer para aliviar esse incômodo é, em primeiro lugar, saber que ainda pode demorar um pouco para chegar a hora H. Quando vierem as contrações, respirar fundo e devagar pelo nariz e soltar pela boca. Não é para respirar rápido porque muito oxigênio no sangue dá tontura e formigamento.

Se quiser um analgésico, peça para que seu obstetra o receite. Eles só aliviam a dor, e não inibem as contrações, assim, eles não vão fazer o trabalho de parto ficar mais lento do que já está.

Quando perceber que as contrações estão aceleradas, marque durante 1 hora: o intervalo entre elas e quanto tempo elas duram. A fase de latência costuma ter de 1 a 3 contrações a cada 10 minutos, e as contrações duram uma média de 60 segundos.

Um fato muito conhecido pelos estudiosos da área da obstetrícia é que a gestante, quando bem informada sobre o trabalho de parto, sente menos dor e consegue contribuir mais para que ele ocorra da melhor forma possível. Para isso, é importante saber quais são suas fases, o que deve esperar em cada uma delas e como deve agir em cada momento.

Para que esse texto não fique muito longo, vou separá-lo por partes, começando pela primeira fase, a de ativação. Essa fase começa no início do terceiro trimestre. É quando a gestante começa a sentir as primeiras contrações, que são aquelas dorzinhas chatas que podem ir para as costas.

São chamadas contrações de Braxton Hicks, e se caracterizam por ser contrações fracas que duram aproximadamente de 30 a 60 segundos. Aparecem algumas vezes por dia, de forma irregular, e podem estar relacionadas a esforços físicos ou com a movimentação fetal. São uma preparação bem inicial do útero para um futuro trabalho de parto, e são completamente normais.

Caracterizam-se por não promover uma dilatação no colo do útero. Elas tendem a aumentar sua freqüência conforme o avançar da gestação, mas são bem diferentes das contrações do trabalho de parto, tanto em intensidade quanto em freqüência.

O orgasmo, quando ocorre no terceiro trimestre, também pode desencadear essas contrações. Mas isso é completamente normal e não impede de forma alguma que essa gestante mantenha relações sexuais no final da gravidez.

 


Dra Paula

Olá, sejam bem-vindas ao meu blog!

Antes de mais nada gostaria de me apresentar: sou médica formada pela USP, fiz residência em ginecologia e obstetrícia no Hospital das Clínicas da USP e fiz pós-graduação em Medicina do Esporte na Escola Paulista de Medicina (Cefit). Trabalhei no Hospital das Clínicas como médica responsável pelo ambulatório de Ginecologia do Esporte e na clínica Célula Mater.

Escrevo esse blog pois acredito que a mulher se beneficia muito quando entende seu corpo e o como as doenças atuam nele. Isso contribui com o acompanhamento clínico e o tratamento. A partir do momento que a paciente se torna uma pessoa consciente de seu corpo, ela fica mais ativa junto ao médico na busca pela saúde.
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