Mulher Saúde

Para falar sobre resistência insulínica, antes precisamos entender como funciona a relação entre a glicose e a insulina. A glicose é o principal combustível das nossas células. Ela é obtida pela alimentação, quando comemos carboidratos.

O que são os carboidratos?

Carboidratos são formados pela junção de várias moléculas de açúcar. Açúcar aqui não é aquele pozinho doce, mas sim o nome dado a estrutura formada por átomos de carbono (carbo), hidrogênio (hidrato) e oxigênio, representados principalmente pela glicose, frutose e galactose. Alguns exemplos de alimentos ricos em carboidrato são: batata, arroz, massas, pão e doces.

Como o carboidrato se transforma em glicose?

Quando comemos um alimento com carboidrato, esse é quebrado por nossas enzimas digestivas e transformado em várias moléculas de glicose. Ela é facilmente absorvida pelo nosso intestino, como se escorregasse do intestino para o sangue.

Como a glicose vai do sangue para dentro das células?

O aumento da concentração sanguínea de glicose manda um sinal para o pâncreas produzir e liberar a insulina. Ela é hormônio responsável por colocar a glicose do sangue para dentro das células.

Imagine que a célula é uma casa, e a glicose é uma pessoa tentando entrar nessa casa. Para entrar, ela precisa destrancar a porta da casa. A chave para destrancar a porta seria a insulina, e a fechadura da porta seria o receptor de insulina. Quando a porta é destrancada, a pessoa entrará na casa passando pela porta, que, no caso do nosso corpo, seria a glicose entrando na célula pelo seu canal transportador, chamado GLUT4. Abaixo coloquei duas imagens para ajudar a entender esse mecanismo:

Portanto, para a glicose passar do sangue para dentro da célula, primeiramente a insulina deve se ligar ao seu receptor, resultando na abertura do GLUT4. Essa abertura permitirá a entrada da glicose.

O que é a resistência insulínica?

A resistência insulínica é como se a porta tivesse muitas fechaduras trancadas a serem abertas pela insulina. Portanto, se for destrancada apenas uma das fechaduras, a porta ainda não abre. Para abrir, ela precisa destrancar todas suas fechaduras.

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A resistência insulínica é quando nossa célula precisa de uma quantidade maior de insulina para fazer a glicose entrar na célula.

 

A definição clássica da síndrome dos ovários policísticos é a mulher que tenha dois dos três sinais a seguir:

  • Menstruação irregular
  • Ovários com características micropolicísticas ao ultrassom
  • Aumento da produção de hormônio masculino

O que significa cada uma dessas coisas?

A menstruação é entendida como irregular quando a mulher tem um intervalo entre uma menstruação e outra maior que 35 dias. Ou seja, a partir do primeiro dia de sangramento de um ciclo, até o primeiro dia de sangramento do próximo ciclo, se passam mais do que 35 dias. O ciclo normal, tido como regular, é aquele que o intervalo é entre 25 e 34 dias. Para entender melhor o ciclo menstrual, leia o texto “entendendo seu ciclo menstrual”.

Quando isso acontece, existe uma forte suspeita que a mulher não esteja conseguindo ter sua ovulação. Isso porque é a ovulação quem regula o ciclo, fazendo acontecer a produção de progesterona e, 14 dias depois, a menstruação.

Se a mulher não ovula, o que acontece com os hormônios?

Quando a mulher não ovula, ela produz apenas os hormônios da primeira fase do ciclo menstrual, a fase folicular. A produção de estrogênio se mantém baixa e contínua. Dessa forma, ele vai aumentar a produção do LH e diminuir a do FSH.

O FSH é responsável por estimular o amadurecimentos dos folículos dos óvulos. Se ele fica baixo, ele não consegue concluir esse processo, e assim, a mulher acaba tendo vários folículos pequenos, sem que nenhum consiga crescer e ovular. Por isso a característica micropolicística ao exame de ultrassom.

Obs: Micro = pequeno; cisto = saco fechado com conteúdo líquido.

Abaixo coloquei uma imagem de um ovário normal (direita) e ao lado, um ovário micropolicístico (esquerda).

Abaixo repeti essas imagens com legenda.

slide1

O ovário é visto como uma imagem circular de cor cinza um pouco mais escura. A esquerda, dentro dele, vemos os folículos, que são bolinhas pretas. A direita, ovário é praticamente todo cheio de bolinhas pretas dentro dele. Esses são os micropolicistos, que na verdade são vários folículos que não conseguem progredir no amadurecimento dos óvulos.

Outra consequência da falta de ovulação é que o estrogênio mantém o LH mais alto e constante. O LH atua diretamente nas células do ovário para que elas produzam hormônios masculinos como a testosterona. Se ele está o tempo inteiro mandando essa informação para os ovários, a mulher acaba tendo uma produção excessiva desses e tendo sintomas como:

  • Crescimento de pelos em locais tipicamente masculinos: face (barba e bigode), braços (mais na parte de cima dos braços, perto dos ombros), peito, barriga, costas, nádegas e raiz das coxas.
  • Aumento de oleosidade da pele e acne
  • Perda de cabelo na região da testa e/ou no topo da cabeça

Para concluir, portanto, dizemos que uma mulher tem a síndrome dos ovários policísticos quando ela apresenta duas dessas três características: menstruação irregular, ovários micropolicístico ao ultrassom, sintomas de aumento de hormônio masculino.

 

 

O ciclo menstrual é um termômetro da saúde da mulher. Os hormônios envolvidos nele dependem de um ambiente equilibrado para funcionarem adequadamente. Existe uma série de doenças nas quais a primeira manifestação é a desregularização da menstruação.

O ciclo menstrual compreende o intervalo entre o primeiro dia de sangramento de uma menstruação e até o primeiro dia de sangramento da próxima.  É dividido em 3 partes: a fase folicular, que dura em média 14 dias e é quando acontece o amadurecimento do óvulo; a ovulação, quando esse óvulo sai do ovário e vai para as trompas; e a fase lútea, que tem como característica a duração precisa de 14 dias, e é quando, não havendo a fecundação, acontece uma regulação hormonal preparando o corpo para recomeçar o ciclo.

Para a melhor compreensão do ciclo menstrual, temos que observar os hormônios e as suas funções em 2 lugares: ovário e endométrio (camada de dentro do útero).

Representação do útero e ovários:

slide1

FSH (hormônio folículo estimulante)

Esse hormônio é produzido no cérebro, numa região chamada hipófise, liberado na corrente sanguínea e, quando chega aos ovários, estimula esses a produzir estrogênio através dos folículos.

Ilustração do ovário na fase folicular:

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Está vendo essas bolinhas cinzas dentro do ovário? Esses são os folículos, bolsas cheias de água e hormônios que trazem, cada um, um óvulo imaturo, ou seja, que ainda não está pronto para ovular.

O FSH vai atuar nesses folículos, estimulando seu crescimento e amadurecimento junto ao óvulo que traz em seu interior. Apenas um folículo atingirá a maturidade de fato, os demais morrerão e serão reabsorvidos pelo corpo.

Estrogênio:

Quando o estrogênio é estimulado, ele manda um sinal para o cérebro fazer duas coisas: aumentar a produção do LH e diminuir do FSH. Isso faz com que apenas o folículo que responde melhor ao FSH continue o desenvolvimento. Ainda é papel do estrogênio espessar o endométrio.

LH (hormônio luteinizante)

O LH é produzido no cérebro (na hipófise), estimulado pelo aumento de estrogênio no final da fase folicular. Ele é o responsável pela ovulação. Após isso, esse hormônio estimula o ovário a produzir progesterona através do corpo lúteo, que é o folículo que chegou ao final do processo de amadurecimento.

Progesterona

A progesterona é produzida pelo corpo lúteo, por isso, sua produção só ocorrerá caso a mulher ovule. É papel desse hormônio transformar as paredes endométrio de forma à melhorar a aderência do embrião caso haja uma fecundação (encontro do óvulo com o espermatozóide).

Ainda é função da progesterona diminuir a produção do LH. Como esse é o responsável pela manutenção do corpo lúteo, quando o LH diminui, há uma queda da produção hormonal ovariana.

Esse é o fim do ciclo menstrual, e início de mais uma menstruação.

Para facilitar a compreensão dessa interação hormonal que acabamos de ver, observe o gráfico abaixo:

Gráfico Ciclo menstrual:

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O primeiro hormônio a aumentar na fase folicular é o FSH. Na segunda linha, há o esquema do folículo que vai completar o processo de maturação desencadeado por ele.

O estrogênio, na fase folicular, resulta nas seguintes modificações: na primeira linha há a diminuição do FSH e ao aumento do LH; na terceira, há o engrossamento do endométrio.

A ovulação, mostrada na segunda linha, acontece juntamente com o pico do LH.

A progesterona é produzida na fase lútea.

As imagens de ultrassom a seguir mostram como o corpo da mulher responde a essas alterações hormonais que acabamos de aprender.

Imagem de ultrassom do ovário na fase folicular:

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A imagem do ovário é reconhecida no ultrassom como uma circunferência de cor cinza escuro. Os folículos são as bolinhas pretas dentro da circunferência.

Imagem de ultrassom do ovário na ovulação:

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O folículo pré-ovulatório é maior que os imaturos, medindo em média 20mm de diâmetro.

Imagem de ultrassom do ovário na fase lútea:

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A imagem do corpo lúteo lembra uma bola murcha.

Imagem de ultrassom do útero e endométrio fase folicular:

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O útero é visto com um formato de pêra, em tom mais escuro de cinza. Dentro dele está o endométrio. Ao fim da menstruação, ele está fino e aparece como uma linha branca.

Imagem de ultrassom do útero e endométrio na ovulação:

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Na ovulação o endométrio fica com uma cor cinza escuro, e seus limites aparecem como linhas brancas. Essa imagem é conhecida como endométrio trilaminar.

Imagem de ultrassom do útero e endométrio na fase lútea:

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Nessa fase o endométrio, que sofre modificações estruturais por ação da progesterona, aparece de cor cinza bem claro.

Para finalizar, agora que você consegue entender essas imagens de ultrassom, observe-as  juntas. Desta forma, fica mais fácil entender a sequência  de alterações que ocorrem em cada fase do ciclo menstrual.

Imagens de ultrassom de ovário e útero:

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A trombose é o nome que se dá quando o sangue coagula dentro do vaso sanguíneo, talha dentro do vaso, e assim, entope-o e impede a passagem de sangue naquele lugar. É a manifestação de que alguma coisa, naquela hora e naquele local, aconteceu de errado. Mas o que pode acontecer de errado?

O sangue fica no seu estado líquido apenas quando ele está em movimento. Se ele para, a tendência é coagular, talhar, virar sólido. Isso por que, no sangue, existem umas coisas chamadas plaquetas, que quando encostam umas nas outras, têm a tendência de se grudar. Se o sangue está correndo nas veias normalmente, sem nenhum obstáculo, a tendência é que todas as células permaneçam no seu caminho reto. Se aparece um obstáculo no caminho, ao invés do sangue permanecer indo reto, ele “tropeça” , chacoalha. Resultado: as plaquetas se trombam, e aumenta a chance delas grudarem umas nas outras e resultar numa trombose.

Abaixo temos um esquema do sangue encontrando um obstáculo em sua passagem:

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E o que eu sinto se tiver uma trombose?

O sangue não passa mais pelo vaso sanguíneo naquela região, e portanto não leva mais oxigênio para aquela parte. Quando isso acontece, as células que deveriam receber aquele oxigênio para viver começam a morrer, e isso dá muita dor. Também pode acabar inchando a região, principalmente se for nas pernas.

Abaixo temos um esquema do sangue e do vaso sanguíneo primeiro normal, e depois com uma trombose:

 

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Existem algumas causas para que a trombose possa acontecer, que se dividem em 3 principais categorias:

1- Aconteceu algum machucado na parede do seu vaso sanguíneo (artéria ou veia), local esse apontado na figura acima como revestimento do vaso.

Quando houve o machucado (causado por exemplo por um aumento de pressão arterial, por um pico de glicose no sangue, ou por um trauma), essa alteração fez com que vc mandasse seu corpo cicatrizar aquela região. Quando vc foi cicatrizar a parede do seu vaso sanguíneo, o processo de cicatrização, acontecendo em contato direto com seu sangue (afinal, foi lá na passagem dele que aconteceu o machucado) acabou estimulando o sangue a coagular para fazer a “casquinha” do vaso sanguíneo. Se esse coágulo for grande demais e acabar bloqueando toda a passagem do sangue, e acontece a trombose.

Um exemplo de uma situação assim são os infartos fulminantes.

2- O sangue ficou parado muito tempo no mesmo lugar e acabou coagulando.

O sangue precisa estar em movimento para permanecer no estado líquido. Se ele para, acontecem umas reações químicas que o estimulam a coagular. Por isso, se existe um problema de má circulação, aumenta a chance de ter a trombose.

Exemplos de problema de má circulação são varizes mais graves e profundas, ou uma pessoa que está acamada.

3- Você tem um problema que faz seu sangue coagular mais do que deveria.

Alguma coisa acontece no seu sangue que faz com que ele coagule em resposta a estímulos que normalmente não deveriam fazer com que ele simplesmente talhasse. E algum estímulo pequeno aconteceu, e o coágulo se formou.

Um exemplo dessa situação é a menina que teve trombose enquanto toma pílula anticoncepcional, sem nenhum outro fator que tenha contribuído para ela ter a trombose. A pílula realmente aumenta um pouco a tendência do sangue a coagular. Porém, numa mulher que não tem nenhuma outra alteração no sangue, a chance de ela fazer uma trombose é muito pequena. Por isso, se teve uma trombose usando a pílula, e não houve nenhum dos fatores acima descritos, provavelmente tem alguma outra coisa além da pílula que resultou na formação dessa trombose.

Para falar especificamente sobre essas alterações, vou fazer outro texto, senão esse acaba ficando muito longo  😉

 

Os sintomas dependem de onde o tecido de endométrio aderiu dentro da cavidade abdominal. Como ele se comporta da mesma forma que o endométrio normal, de dentro do útero, os sintomas dependem da fase do ciclo menstrual, e ficam mais fortes quando há a menstruação. Durante a menstruação, imagine que está tendo uma descamação, um sangramento desses endométrios anormais. O sangue originado desses irrita a região em que ele está, provocando dor.

Abaixo vou citar os possíveis locais de aderência e seus sintomas respectivos. Na foto abaixo há a imagem da mulher como se estivesse sido cortada no meio, passando pela região do umbigo:

Imagem

– Ovário:

Quando há endometriose no ovário, o que a mulher sente principalmente é cólica menstrual muito forte. Se fizer ultrassom, a endometriose ovariana é vista como uma imagem de cisto com conteúdo semelhante ao sangue. Esse cisto é chamado de endometrioma e ele costuma ser permanente, não desaparece sozinho.

O endometrioma não costuma interferir no ciclo menstrual, ou seja, a mulher provavelmente terá ciclos menstruais regulares. Porém, ele pode interferir com a qualidade da ovulação, e dificultar que o óvulo, após sair do ovário, consiga fazer seu caminho normal de entrar nas tubas uterinas para ser fecundado pelo espermatozoide, desta forma podendo levar a um quadro de infertilidade.

– Bexiga:

O tecido endometrial pode aderir na parede da bexiga, a camada de fora de bexiga. Se isso ocorrer, a mulher sentirá sintomas de irritação da bexiga parecidos com os de infecção urinária: vontade de urinar o tempo todo, dor ao urinar, sensação de bexiga cheia logo após esvazia-la…

Esses sintomas se intensificam durante a fase menstrual e tendem a melhorar após a menstruação.

– Intestino:

O tecido de endométrio pode aderir na parede externa do intestino. Quando há menstruação, a mulher pode sentir cólicas intestinais parecidas com cólicas de diarreia, e ter dor ao evacuar. Não é frequente ter sangramento nas fezes por causa de endometriose, apenas dor.

Esses sintomas se intensificam durante a fase menstrual e tendem a melhorar após a menstruação.

– Ligamentos do útero:

A endometriose pode acometer os ligamentos do útero, em especial um ligamento chamado útero-sacro. Esse ligamento fica na parte posterior do colo do útero, na região do fundo da vagina. Isso pode provocar dores durante as relações sexuais, principalmente quando o pênis bate no fundo da vagina.

– Endometriose e infertilidade:

Quando a mulher tem endometriose, toda menstruação resulta em descamação desses focos de endometriose dentro da cavidade abdominal. Essa inflamação nada mais é que uma forma do corpo mandar o sistema de defesa para a região irritada, pois ele entende essa irritação como uma agressão ao corpo. O resultado disso pode ser a formação de aderências, tecidos de cicatrização, dentro da cavidade abdominal. Se houver formação dessas aderências nas regiões próximas das tubas uterinas, elas podem ser obstruídas.

As tubas uterinas são estruturas responsáveis por transportar os óvulos após a ovulação. Na relação sexual durante o período fértil, os espermatozoides encontram o óvulo e o fecundam dentro das tubas uterinas, e o embrião resultante desse processo é levado para o útero onde haverá a nidação (quando o embrião gruda no endométrio) e consequente gravidez.

Se houver obstrução das tubas uterinas, o encontro do espermatozoide com o óvulo será impossibilitado, resultando num quadro de infertilidade.

Nem todo mulher com endometriose tem aderência nas tubas, mas pode ter. É possível verificar a integridade das tubas uterinas através de um exame chamado histerossalpingografia. Esse exame está indicado apenas quando a mulher está tentando engravidar, não deve ser feito de rotina.

Hoje em dia estamos ouvindo falar muito da endometriose, e por isso, gostaria de esclarecer o que realmente é essa doença.

O que é endometriose?

Endometriose é uma doença que ocorre quando há a formação de endométrio fora da cavidade do útero. Calma, não se desespere, vou traduzir essa frase.

O que é endométrio?

Endométrio é a camada de dentro do útero, é a camada que reveste a cavidade, a parte de dentro do útero. É o que descama nas menstruações, resultando no sangramento menstrual. Abaixo coloquei um desenho do útero para que você consiga entender melhor o que estou dizendo:

 Imagem

Repare que há uma comunicação das cavidades da vagina, do útero e das trompas. As trompas não são fechadas nas extremidades, elas mantém essa comunicação com a parte de dentro da barriga, a cavidade abdominal, onde se encontram os outros órgãos abdominais (bexiga, intestino, etc..).

O endométrio deveria existir apenas dentro do útero.  Os hormônios sexuais (estrogênio e progesterona) atuam nele fazendo com que ele cresça e, ao final do ciclo, descame.

Porque ocorre a endometriose?

Ainda não se sabe ao certo porque ocorre a endometriose. A teoria mais aceita hoje em dia é a da menstruação retrógada.

Quando há a menstruação, grande parte do sangue menstrual (que na verdade é uma mistura de sangue com restos de endométrio) escoa pela vagina, mas uma parte dele faz o caminho retrógrado, inverso, e cai dentro da cavidade abdominal. Isso ocorre em todas as mulheres, mas em algumas (e não se sabe porque), esse endométrio se fixa dentro da cavidade abdominal.

As mulheres que têm endometriose provavelmente têm alguma alteração no sistema imunológico (sistema de defesa do corpo), e ele não reconhece esse tecido de endométrio fora do útero como sendo algo que ele tenha que “limpar”. Desta forma, esse tecido se fixa e funciona da mesma forma que o endométrio normal, reagindo aos hormônios. Quando a mulher menstrua, há também a descamação desse tecido de endométrio fora do lugar, o que irrita a cavidade abdominal e resulta em dor, cólica.

 O quadro clínico, sintomas, e possíveis tratamentos de endometriose vou explicar em futuros posts.

O que são ovários policísticos?

Existe uma diferença entre o significado de ovários policísticos e a síndrome dos ovários policísticos. Ovários policísticos são visualizados no exame de ultrassom como tendo um tamanho maior e contendo pequenos cistos. A síndrome dos ovários policísticos é definida como a mulher que tem menstruação irregular (ausência de ovulação nos ciclos menstruais) e sinais de aumento de hormônio masculino (visto principalmente por aumento de pelos em locais como buço, barba, peito, abdome, dorso, nádegas e coxas). Além desses sintomas, para que a mulher seja diagnosticada com a síndrome dos ovários policísticos, deve-se excluir outros problemas que poderiam cursar com os mesmos sintomas.

Qual o problema de ter a síndrome dos ovários policísticos?

– Alteração hormonal

A síndrome dos ovários policísticos resulta da alteração no equilíbrio dos hormônios envolvidos no ciclo menstrual, tendo como consequência tem a ausência da ovulação. É muito comum verificar nessas mulheres uma resistência aumentada a insulina, como uma pré-diabetes. Por isso a investigação desse achado de ovários policísticos ao ultrassom deve conter a avaliação do metabolismo de glicose.

– Ausência de ovulação

A falta de ovulação pode ter 3 problemas. O primeiro, mais fácil de perceber, é dificuldade de engravidar. Os outros têm relação com a alteração hormonal decorrente da falta de ovulação. Como vimos no texto sobre o ciclo menstrual, após a ovulação o ovário produz progesterona, que tem um efeito contrário ao estrogênio no endométrio (camada de dentro do útero, responsável pela menstruação). O estrogênio tem efeito de fazer o endométrio crescer, aumentar. A progesterona bloqueia essa ação de crescimento do endométrio.

Se a mulher não ovula, ela fica o tempo todo com seu endométrio sendo estimulado pelo estrogênio. O sangramento que ela vai ter não é de menstruação, não é um evento auto-limitado e controlado por uma série de mecanismos naturais. Esse sangramento ocorre pois o endométrio cresce demais e não “aguenta”, se desprende da cavidade, do interior do útero e sangra. Isso pode levar a sangramentos mais intensos, hemorragias, eventualmente com necessidade de tratamento com medicações para conte-lo.

Esse desequilíbrio hormonal a longo prazo pode aumentar a chance da mulher apresentar tumores estrogênio-dependentes, principalmente tumores de endométrio.

Qual o problema de ter ovários policísticos?

O fato da mulher apresentar os ovários com características policísticas não quer dizer muita coisa quando ocorre isoladamente. Esse é apenas um sinal que pode indicar alguma alteração, mas pode não indicar nada. Existem ovários que tem função normal, ovulam mensalmente, e têm esse aspecto micropolicístico. Mas, como esse fenômeno pode estar associado a síndrome dos ovários policísticos, esse diagnóstico deve ser investigado.

Vou fazer alguns posts sobre atividade física na gravidez, começando pelo começo: primeiro trimestre. Atividade física na gravidez é um assunto muito controverso. Por isso, não vou dar minha opinião pessoal sobre o assunto. Vou explicar as consequências da gravidez para o sistema locomotor e possíveis impactos da atividade física no corpo da gestante. 

No primeiro trimestre ocorre alguma alteração que interfira com atividade física?

Desde o início da gestação ocorrem alterações hormonais intensas. Dentre essas, há aumento do hormônio chamado relaxina que, como diz o nome, serve para relaxar todos os ligamentos do corpo. As consequências disso são articulações mais maleáveis e frouxas que facilitam a abertura da bacia no momento do parto. Porém, como disse anteriormente, todas as articulações do corpo sofrem interferência desse hormônio e, desta forma, todas ficam mais susceptíveis a lesões. 

Mas se as articulações estão mais frágeis, mais instáveis, isso proíbe atividade física de impacto?

Não. O fato dessas articulações estarem mais frágeis não proíbe nada, mas serve como alguns alertas:

– Se a gestante tiver alguma dor na articulação, na junta, ela deve procurar ajuda profissional para realizar fortalecimento muscular antes de iniciar atividade física. O fortalecimento da musculatura ajuda o músculo a absorver o impacto da articulação, retirando a sobrecarga e prevenindo lesões.

– Se houver aparecimento de dores articulares relacionadas ao exercício, pare imediatamente e procure atendimento especializado.

Se a mulher for sedentária e engravidar, ela pode começar a fazer atividade física na gravidez?

Sim, mas com cautela. Escolher exercícios de intensidade leve a moderada, e neste caso, sem impacto. A mulher sedentária não tem um preparo muscular adequado para começar a fazer uma atividade física de impacto, como corrida. E neste caso, o risco de se machucar é maior que o benefício da corrida. Por isso, é melhor procurar exercícios sem impacto e musculação. 

Para saber se a intensidade está adequada, a mulher precisa se sentir cansada, mas ao mesmo tempo conseguir conversar sem ficar com falta de ar. A frequência cardíaca é em torno de 140 batimentos por minuto nesta intensidade. A periodicidade ideal é 3 vezes por semana, não passar mais de 30 minutos contínuos de exercícios.

Se a mulher já fizer atividade física antes de engravidar, ela precisa mudar alguma coisa na rotina de treinos?

Depende do que ela pratica. A maioria das modalidades não interferem com a gravidez, e a mulher pode continuar treinando normalmente. Algumas recomendações gerais que acredito ser importante frisar:

– Evitar treinar em ambientes de temperaturas extremas, principalmente quente e úmido.

– Evitar contato físico com potencial lesivo.

Dicas para treinar melhor:

– Sempre comer antes e depois de treinar!!! Pense que na gravidez, existe um bebê que está o tempo todo roubando sua glicose e nutrientes pelo cordão umbilical. Por isso, a grávida tem que comer algo leve antes do treino, e se for treinar mais que 20 minutos, ingerir algo com glicose durante o treino. Após o treino, comer novamente para restabelecer as energias perdidas. 

– Tênis: aconselho ter um par de tênis novo para garantir que o amortecimento do calçado esteja bom e funcionando.

– Top: que segure muito bem as mamas, com uma alça larga para distribuir melhor a sustentação. Pense que umas das primeiras modificações da gravidez é o aumento das mamas. Elas sofrem o efeito da gravidade mesmo durante a gravidez e amamentação. Por isso, use um top que segure bem os peitos para evitar que eles balancem demais e, com isso, sintam os efeitos da gravidade que puxa para baixo e não perdoa.

 

 

Por que a grávida fica com as pernas inchadas?

Conforme o útero da gestante cresce dentro da barriga, ele acaba apertando a veia que leva todo o sangue das pernas para de volta ao coração, assim dificultando esse retorno venoso (do sangue). Portanto, quanto maior o útero, pior esse inchaço. Ele normalmente ocorre a partir do segundo trimestre de gravidez, e se intensifica no terceiro.

O que fazer para diminuir esse inchaço?

  • Coloque as pernas para cima sempre que for possível. Quando chegar em casa, deite de lado com as pernas sobre um travesseiro;
  • Use meias elásticas, como as meias Kendall, de média compressão. Pode ser tanto as 3/4s, para quem tem pouco inchaço, como as 7/8s;
  • Evite de deitar com a barriga para cima, isso piora aquele aperto que o útero causa na veia da barriga. Deite sempre virada para o lado, de preferência o esquerdo;
  • Faça massagem, ou melhor, peça para alguém especial fazer massagem nas suas pernas, sempre na direção dos pés para a coxa, pois estimula o retorno venoso (o sangue sair das pernas e voltar para o coração);
  • Faça exercícios físicos. Ao contrair a batata da perna, você melhora o retorno venoso;

Uma amiga minha uma vez me disse: se o trabalho de parto fosse uma coisa fácil, não se chamaria “trabalho” de parto, apenas parto! É um momento no qual não se tem uma previsão ao certo de quando vai acabar, afinal, seu tempo de duração varia muito entre uma mulher e outra. Se a grávida não souber o que esperar durante ele e como fazer para ajudá-lo a ser o melhor possível, pode acabar se descontrolando e se rendendo a uma ansiedade extrema. Isso é muito ruim para ela, pois além de ser uma sensação de perda do autocontrole, essa liberação de adrenalina atrapalha as contrações do útero, e pode prolongar o tempo de trabalho de parto. Já com as mais calmas e colaborativas, ele progride, evolui melhor. Portanto, meu objetivo nesse post é ensinar alguns exercícios para vocês irem treinando para a hora H.

A primeira coisa é a respiração: durante as contrações, o mais importante é se concentrar na respiração. É ela que leva oxigênio para o neném, e quanto mais oxigênio o útero recebe, mais rápido as contrações melhorarão. Nesses momentos, a grávida deve respirar lentamente pelo nariz e soltar pela boca, enchendo fundo o peito de ar, e soltando lentamente. Se der tontura, é porque a respiração está muito rápida e ,portanto, você deve respirar mais devagar ainda.

As melhores posições para a gestante durante o trabalho de parto são aquelas que abrem a bacia, facilitando a descida do neném pelo canal de parto: com as pernas bem abertas, e o tronco inclinado para frente.

Enquanto a grávida se apóia em algum suporte pela frente, seu acompanhante deve fazer massagem nos seus músculos lombares, que costumam ficar tensos juntos com as contrações. Esses são os músculos que ficam na região mais baixa das costas, logo acima do bumbum, um de cada lado da coluna. A massagem deve ser feita com as duas mãos, com uma compressão firme da musculatura (não é para ficar fazendo “carinho”, fraquinho, pois assim não ajuda!), em movimentos circulares. Ela deve ser feita no terceiro trimestre, assim vocês já treinam para a hora do parto, e ainda alivia aquela dor nas costas característica do final da gravidez.

Para finalizar, é importante lembrar que a gestante também pode e deve caminhar durante o trabalho de parto. A força da gravidade também costuma ajudar muito o neném a descer. Desta forma, o que eu não recomendo para esse momento é ficar deitada: é a pior posição possível, que menos contribui para sua progressão. Imagine uma mulher deitada, com as pernas fechadas. A força da gravidade não contribui e o espaço que o neném tem para descer e nascer fica muito menor. Portanto, quando chegar à sua vez, lembre dessas dicas, assim você mesma pode contribuir para seu trabalho de parto, fazendo dele o melhor momento possível!

Dra Paula

Olá, sejam bem-vindas ao meu blog!

Antes de mais nada gostaria de me apresentar: sou médica formada pela USP, fiz residência em ginecologia e obstetrícia no Hospital das Clínicas da USP e fiz pós-graduação em Medicina do Esporte na Escola Paulista de Medicina (Cefit). Trabalhei no Hospital das Clínicas como médica responsável pelo ambulatório de Ginecologia do Esporte e na clínica Célula Mater.

Escrevo esse blog pois acredito que a mulher se beneficia muito quando entende seu corpo e o como as doenças atuam nele. Isso contribui com o acompanhamento clínico e o tratamento. A partir do momento que a paciente se torna uma pessoa consciente de seu corpo, ela fica mais ativa junto ao médico na busca pela saúde.
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